Retirada de embarcações e maré alta por conta dos futuros deques são problemas apontados por moradores.
Reunião na Praia do Meio, nesta sexta-feira, dia 10, para decidir o ordenamento das embarcações na beira da praia, acabou num banho de água fria em pescadores e caiaqueiros. De acordo com o engenheiro responsável pela obra da Prefeitura de Florianópolis, Ricardo Junkes, canoas e caiaques deverão ser transferidos para outro local da praia, após a instalação dos deques à beira-mar.
Segundo o engenheiro, o deques terão dois metros de largura e, como vão ficar no nível da calçada, será impossível abrigar as embarcações embaixo deles. A sugestão de Ricardo é colocar os barcos na outra extremidade da praia, onde as coberturas ficarão mais altas.
De acordo com o Projeto de Revitalização da Orla, os deques na Praia do Meio serão instalados numa extensão de cerca de 330 metros, ou seja, desde a Praça José Boabaid – onde está o Posto da PM – até o Bolhas Bar.
PRAZO DE 30 DIAS PARA RETIRAR AS EMBARCAÇÕES
Por conta do início da obra, que tem previsão para 30 dias, os proprietários das embarcações terão esse prazo para retirar seus barcos e caiaques e arrumar um local adequado para guardar. A expectativa de conclusão dos trabalhos é de 10 meses.
Somente após esse período é que será definido em que local da praia ficarão as canoas de pesca. “Vamos tentar resolver o impasse para não prejudicar a atividade”, aponta o superintendente municipal da Pesca, Adriano Weickert.
Quanto aos caiaques usados para esporte e lazer, a hospedagem ainda está indefinida. “Quem vai decidir é a própria comunidade. A Superintendência não tem jurisdição apropriada para julgar a questão”, aponta Adriano.
PRESERVAR AS TRADIÇÕES LOCAIS
Presente à reunião, a presidente do Conselho de Segurança de Coqueiros, Elaine Otto, defendeu a permanência das canoas de pesca no local. “Trata-se de um traço cultural que deve ser preservado. Canoas de pesca, local de confecção e reparo de redes. É um valor paisagístico imensurável. Descaracterizar este pedacinho de paraíso natural é doloroso. Melhoria sim, descaracterização não”, lamenta Elaine.
E foi justamente o que o secretário municipal da Infraestrutura, Valter Gallina, defendeu durante a inauguração do Centro Cultural do Continente, dia 14 de maio: após a pergunta da editora da Folha de Coqueiros, jornalista Sibyla Loureiro, o secretário garantiu que as embarcações continuariam no local, já que existe espaço adequado para erguer o deque.
No entanto, não é o que foi anunciado na reunião desta sexta-feira pelo engenheiro responsável pela obra. “Por que, então, pediram para a gente fazer cavalete padrão?”, questiona a moradora Clarisse Herzog. Ela e os demais donos de caiaques e barcos investiram R$ 160,00 em cada cavalete, e mantiveram uma pessoa para limpar o local, já que a Comcap não dá conta de manter a limpeza de todas as praias.
Para completar a polêmica da instalação dos deques exatamente no lugar onde estão hospedados as embarcações, o engenheiro e morador da Praia do Meio, Roberto Boell Vaz, mostra a dificuldade em colocar estacas na praia devido à vegetação. “Como vão bater estacas aqui. Vão cortar as árvores, vão suprimir os galhos?”, questiona Roberto, posicionando-se contra à poda das árvores, já que elas levaram anos para crescer e dão um charme todo especial à orla. “Terão que pensar em outra alternativa para fixar as estacas”, acrescenta.
PRAIA DA SAUDADE
Pescadores da Praia da Saudade também estiveram na reunião para saber como ficaria a instalação dos deques na orla. Segundo Maurício Rodrigues, morador do local e pescador profissional, as estacas que estão sendo colocadas na areia da praia vão impedir o acesso do barco ao mar como também de outras atividades próprias da pesca como a limpeza da embarcação.
O problema, de acordo com o engenheiro Ricardo Junkes, será resolvido com a redução no tamanho de um dos três módulos de deques que serão construídos ao longo da Praia da Saudade. Nesse caso, o que ficará no entorno do antigo prédio do Restaurante Trintão.
Outro problema da Praia é a maré alta que vai exigir manutenção constante dos deques e uma vida útil muito pequena, segundo avaliação do engenheiro Roberto Boell Vaz. Em dias de vento sul, por exemplo, e principalmente no inverno, a maré chega a bater na mureta de proteção da calçada.
“O projeto de Revitalização das Praias do Riso, da Saudade e do Meio não está engessado. Estamos, justamente, promovendo reuniões em cada uma das praias para fazer as adaptações necessárias conforme as prioridades de cada local”, aponta Ricardo.
CONHEÇA O PROJETO
Os primeiros trabalhos, conduzidos pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, que deu ordem de serviço no dia 18 de maio, começaram pela cravação de estacas de concreto e madeira para execução da estrutura do deck na Praia do Riso. Em seguida, na Praia da Saudade e na sequência a Praia do Meio.
Ao todo, as três praias, que serão revitalizadas, totalizam 770 metros de extensão. Elas vão ganhar decks; guarda-corpo metálico; escadas de acesso à praia; revitalização dos passeios de petit pavê; instalação de bancos de madeira sem encosto; lixeiras; paisagismo; e implantação de faixas elevadas nas pistas de rolamento em frente da orla para acessibilidade aos decks.
Os serviços serão feitos pela empreiteira STC – Serviços de Terraplanagem e Construção Ltda. pelo prazo de 10 meses, ou seja, até março do ano que vem. O valor total do investimento é de R$ 7.010.277,77.